terça-feira, 5 de janeiro de 2010

As Joanas e o "Valorize-se"



Existe uma mania, um hábito estranho entre as mulheres. Nós acreditamos no discurso da autoajuda e disseminamos esse trágico conhecimento como se dominássemos a fórmula do “valorize-se”. Nossas sessões de fofoca e terapia em grupo só não são deprimentes quando aprendemos a dar gargalhadas dos nossos escorregões. Ontem participei de uma e ri bastante. E é incrível como nós, meninas-mulheres-profissionais, independentemente da cor do cabelo, manequim, área de atuação e interesse, nos perdemos justo quando o ponto é o do próprio valor.
A questão não é autoestima baixa, por mais que saibamos reconhecer ferozmente cada celulite. Não falo por todas as mulheres, reconheço que somos plurais demais para qualquer tentativa de generalização, tomo como referência um universo amostral bem mais delimitado. =D
A coisa fica complicada quando sabemos o que queremos, nos permitimos querer, e nos importamos com o que o outro vai pensar de nós. Esclareço:

Hipótese 1 – Joana está a fim de Paulo, fica com ele, gostou de ficar, não alimenta qualquer sonho romântico e acha que se rolar algo mais seria ótimo. Então, faz-se a vontade de Joana. Estaria tudo certo se, no dia seguinte, ela não se importasse com o que vai passar pela cabecinha, quase sempre limitada, do queridíssimo. E, é claro, seria tudo muito perfeito se não houvesse lugar na cabeça dela para uma série de indagações super chatas. Se o seu interesse era tão nítido e limitado, por que querer que haja um pós contato? Só para que caiba a ela dar um “perdido”? O problema de ele não ligar e não demonstrar mais interesse, é que Joana vai pensar em todas as possibilidades mais cabulosas. “Será que ele pensou que eu era mulher de uma noite só?”. “Será que ele não gostou?”. “Será que fiz alguma coisa errada?”. “Será que ele me acha uma piriguete?”. E o desempenho do Paulo pode até ter sido bem medíocre, a Joana vai querer uma notícia dele mesmo assim. “Se eu sei que sou boa, por que diabos Paulo não quer de novo?”.

Hipótese 2 – Joana é apaixonada por Paulo. Para Paulo tanto faz. Joana gosta de estar com ele, acha que a química entre os dois é sensacional. Paulo não demonstra muita coisa. Joana quer, Paulo não nega. Para Joana não é o suficiente, mas é ótimo, se sente bem e realizada por conseguir fazer valer sua vontade. Ela sabe que faz movida por sentimento, por desejo. Isso já justificaria suas atitudes, faz porque quer e gosta. Maaas... Joana pensa: “Paulo se apaixonaria por uma mulher que vai pra cama com ele sem compromisso?”. Será que Paulo conseguiria enxergar nas entrelinhas dessa entrega? E se Joana sabe do seu caráter, dos seus defeitos e qualidades, por que pensa que Paulo se apegaria justo ao sexo casual como fator determinante para não se apaixonar por ela? “Se eu sou tão boa, por que diabos Paulo não quer de novo?”.


E aí aparecem todas aquelas lições de “aprenda a se valorizar”. Mas como? Ceder às tentações do desejo não é valorizar a própria vontade? E como faz para chegar ao meio termo do comportamento indicado pelas revistas femininas e pelas amigas e mães mais conservadoras?
Se a Nova diz “se joga pimposa”, a amiga, do alto do seu temor, adverte: “ele não merece”.
Mas e a Joana, ela merece o que? O que nós merecemos?
Quando digo que o discurso do “valorize-se” gera um conhecimento trágico, estou declarando que nós não sabemos em que medida estamos nos valorizando ou não. Ainda não sabemos lidar com a idéia de que o outro talvez não enxergue o valor que sabemos ter. E aí, entenda que esse valor está diretamente ligado às idéias arraigadas de mulher virtuosa e decente que aprendemos como modelo ideal.
Chato isso, não?
E, quando nos juntamos para dividir nossas peripécias e angústias, nos vemos dizendo umas para as outras que é preciso se valorizar. Repetimos, como caminho ideal, uma fórmula que não sabemos como e quando usar. Nos ensinaram o estado perfeito, mas não mostraram muito didaticamente como chegar lá. Como não importar com a opinião dos outros? Como não deixar que um simples “não telefonema de dia seguinte” mastigue a segurança do que realmente somos? Onde esconderam a cartilha?

Torço para que as minhas Joanas encontrem o caminho e, de quebra, me mandem um mapa de presente.
=D