quarta-feira, 27 de maio de 2009

De volta com a palavra

Amo a palavra como se ela pudesse resolver tudo nessa vida, como se houvesse palavras suficientes nesse mundo para traduzir tudo o que é passível de existência concreta ou abstrata.
Amo tanto que pensei em fazer dessa relação um trabalho.
Matei assim o amor, matei assim a palavra.
Desde que assumi o compromisso com a informação a palavra brigou comigo. Emburrou-se de todos os jeitos, de bico e de burra mesmo.
Antes dessa invenção descabida eu não precisava de manual de redação. Agora até parece que não sei mais escrever! Justo eu, que comecei com toda essa loucura por que amava a palavra mais do que qualquer iguaria mineira.
Hoje li que um escritor atinge a sua maturidade quando consegue transcender a influência de sua própria personalidade nos personagens que cria. Sendo assim, como já não crio mais nada e nem tampouco consigo desgarrar de mim o que escrevo, dificilmente eu conseguiria ser uma escritora madura. Pouco encorajadora essa constatação. Será que dá para ser jornalista assim?
Queria era ser um fingidor, que finge ser alheia a dor que sente. Queria era ter o talento do Pessoa, da Clarice e do Drummond. Queria tanta coisa... será que tanta coisa consegue expressar o tanto de coisa que queria?
Hoje tudo são notícias, idéia sem acento e mito da imparcialidade. Mas e a máquina de escrever, o cigarro que não fumo, o café que não me vicia, a inspiração que não me movimenta? Que palavra se dá para essa confusão?
Percebe como a palavra foge? Se foge até de mim que nunca a tratei simplesmente como um amontoado de letras, imagina o que não faz com os mais desavisados.
Não sei se é o fim da linha que está chegando ou se é mesmo só o diploma. O fato é que transformei o amor em trabalho sem saber que dava trabalho desse tanto amar o tempo inteiro.
Tomara que não seja tarde demais para pedir que ela volte feliz e complicada como nos tempos da "contracomunicação". 





quinta-feira, 21 de maio de 2009

Música de Algum Lugar

Tem uma música tocando sem parar
ela toca todo dia sem parar
e eu não sei de onde vem
e também não sei cantar
e ela toca
toca
toca mais que sino de missa
toca de certo pra avisar
que o que quer que esteja para acontecer
não demora pra vingar

quinta-feira, 14 de maio de 2009

O que eu teria a dizer sobre os homens?

No começo eles são os gatinhos, os fofos. E para saber se eles estão a fim é só responder ao teste da revista. Se puxa seu cabelo, quebra sua barbie favorita e te chama de chorona é porque gosta de você e tem vergonha de dizer. Um tempo depois eles não são nem gatinhos nem fofos. Os testes esclarecedores dão lugar às listas de milhares de posições sexuais maravilhosas, e a sessão de recadinhos de amor cede espaço para a coluna “sou ácida por causa de um cafajeste”. Se ele bate é questão para Maria da Penha, mas se te puxa o cabelo é porque entende de pegada. A única coisa que não muda é a incompetência para lidar com o interesse no sexo feminino.

Depois dizem que a culpa é da mente complicada das mulheres. Imagina só que absurdo! Aliás, dizer que é impossível entender as mulheres é a constatação mais óbvia do descaramento masculino. A culpa pelo comportamento idiota que eles frequentemente têm não é deles, é das mulheres que nunca estão satisfeitas.

Os homens são habilidosos com poucas coisas... trocar lâmpadas, fazer baliza, acender churrasqueira e transferir a responsabilidade de uma mancada. É batata! Os homens sempre vão dar um jeitinho de colocar a culpa nas mulheres. Bobos! Se não gostam de discutir a relação, o jeito mais rápido de acabar com ela é assumir o erro, pedir desculpas e dizer que vai se esforçar para não pisar na bola outra vez. É difícil?

Difícil é escutar “vamo pro canto”, “ô bundão”, “vem ni mim gostosa” e fazer cara de paisagem. E o pior é que ainda fica uma dúvida: essas cantadas são só diarréia verbal ou eles realmente acreditam que vão conseguir alguma coisa com você assim? Melhor treinar a cara de paisagem... e esquecer o decote.

É frustrante perceber que mesmo aquele deus grego que te leva para jantar, paga sua conta e elogia seu cabelo estrategicamente hidratado, em algum momento vai estragar a boa impressão. Eles não acompanham nossas necessidades, não se baseiam no bom senso e sempre vão olhar para a mais gostosa, mesmo que você seja mais bonita e mais simpática do que ele merece.

Pior ainda é descobrir que as revistinhas de teste não servem mais, que os preciosos resultados que te levaram a ter coragem de entregar a sua primeira cartinha de amor eram furados. Somos nós mesmas, mulheres decepcionadas, de cabelos puxados e letradas em posições tântricas, que dizemos às pobres mocinhas que é normal os meninos arrancarem as cabeças de suas bonecas. Estágio de vida difícil esse! 

Na maioria das vezes o único caminho é apelar para a arte da não perplexidade. Não se espantar com nada é uma tentativa árdua, é verdade. Ainda mais quando existe o fato de que queremos entender o que se passa. Perda de tempo, né? Sempre acabamos com a resposta de que os homens são todos muito previsíveis: as cantadas, os não telefonemas no dia seguinte, a cerveja e o futebol de domingo, o descaso com a nossa inteligência.

Mas, quando parece que a coisa já desandou de vez, surge ainda uma questão maior: por que é que nos interessam tanto? Será que quando nos apaixonamos simplesmente nos esquecemos da previsibilidade masculina ou apenas evitamos o sofrimento por antecedência? Vai entender...

segunda-feira, 11 de maio de 2009

A menina dos passos sem rumo

Ela estava mais triste do que costumava estar. Parecia que tinha levado uma surra, coitada da menina.
Ela que se comportou tão bem, fez todas as lições de casa...
E ainda que não tivesse apanhado de verdade, tudo nela insistia em doer, como se ela tivesse levado uma centena de palmadas.